1 – INTRODUÇÃO
O
presente ensaio tem por objetivo demonstrar de uma forma genérica e sucinta o
contrato de franchinsing,
tanto em seus termos jurídicos quanto em seus aspectos econômicos e sociais,
mormente pela importância que vem ganhando esta espécie de contrato mercantil
ao longo dos anos.
De
acordo com Fran Martins, franchising é o “contrato que liga uma pessoa a
uma empresa, para que esta, mediante condições especiais, conceda à primeira o
direito de comercializar marcas ou produtos de sua propriedade sem que,
contudo, a esses estejam ligadas por vínculo de subordinação”.
O
contrato de franquia exerce hoje uma função sócio-econômica sem igual em todo o
mundo, especialmente em países subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil. Ele
auxilia no aprimoramento de setores como, v. g., o fast
food, trazendo novas formas de comercialização dos produtos, técnica
de vendas, entre outros benefícios.
Passaremos
agora a analisar sua origem e evolução no decorrer dos anos, para que possamos
ter uma melhor compreensão deste tão importante instituto do Direito Comercial.
2 – A ORIGEM DO CONTRATO DE
FRANQUIA E SUA EVOLUÇÃO
Muito
embora se possa pensar que o contrato de franchising possua origem recente, esta não é
a verdade. Já na Idade Média existia um tipo de contrato similar aos contratos
de franquia do mundo moderno.
De
acordo com os estudiosos, a Igreja Católica concedia autorização aos senhores
feudais para que estes coletassem impostos devidos àquela, ficando com uma
certa porcentagem e enviando o restante para a Sé. Tratava-se, porém, de uma
atividade rudimentar, um pouco distante dos contratos da atualidade.[1]
Bem
salienta Glória Cruz que “Esta forma inicial de franchising, ao longo do tempo,
foi passando por várias mudanças, adquirindo novas nuanças; dos coletores
passou pelos mascates, pelos mercadores, fazendo com que o mundo econômico
fosse evoluindo”.[2]
Em 1860
é que surgiu, nos moldes atuais, o contrato de franquia, quando a crescente
empresa norte-americana, Singer
Sewing Machine, no intuito de ampliar sua rede de distribuição, decidiu
credenciar agentes em diversos pontos do país, concedendo-lhes os produtos,
marca, publicidade, know how e técnicas de venda.
Pari
passu, a General Motors em 1898 e a Coca-Cola em 1899, também adotaram este novel
método de comercialização. No entanto, o contrato defranquia ou franchising encontra sua forma definitiva em
1955 com a criação da famosa rede de lanchonetes Mc Donald’s, pelos irmãos Dick
e Maurice Mc Donald.
Esta
espécie de contrato se expandiu com maior intensidade após a Segunda Guerra
Mundial, quando muitas pessoas procuravam novas oportunidades para erigir-se
economicamente, máxime na área automobilística, passando a expandir-se
rapidamente para outros setores de comércio.
3 – ASPECTOS ELEMENTARES DO
CONTRATO DE FRANCHISING
3.1 - TIPOS DE CONTRATOS DE FRANQUIA
3.1.1 – Franchising de Serviços
Neste
tipo de franquia, o franqueador oferece uma forma original e diferente de
prestação de serviços. O franqueado poderá oferecer ao consumidor final os
mesmos serviços devidamente elaborados, seguindo os mesmos padrões que foram
fruto de seu sucesso.
3.1.2 – Franchising de Produção
Aqui, o franqueador
produz todos os produtos que serão comercializados pelos franqueados,
utilizando-se de outras marcas de reconhecido sucesso no cenário comercial.
3.1.3 – Franchising de Distribuição
Neste, o franqueador
seleciona empresas diversas para execução e fabricação dos produtos, sob suas
marcas. Neste tipo de franquia não há produção por parte do franqueador. Resta
aos franqueados a distribuição desses produtos, por meio de suas redes,
seguindo, a rigor, a formatação feita pelo franqueador.
É de suma importância,
na franquia de distribuição, que todos os componentes da rede de franqueados
possuam idênticas mercadorias para serem oferecidas ao consumidor final, no
intuito de preservar a imagem do distribuidor.
3.1.4 – Franchising de Indústria
Por meio deste contrato,
o franqueador oferece ao franqueado todos os meios necessários para que este
industrialize o produto. Deste modo, o franqueado se compromete a produzi-los
nos termos do contrato firmado, para ulterior comercialização dos produtos.
3.2 – O FRANQUEADOR OU FRANCHISOR
O
franqueador é o detentor da marca, do produto de comércio. Por meio do contrato
de franchising, o franqueador pode ingressar em mercados nos quais dificilmente
entraria se dependesse de seus recursos próprios, sejam financeiros ou humanos.
Para isso, conta com a presença física do franqueado e com o conhecimento que
cada um tem dos hábitos e da cultura da região onde vive e trabalha.
Ao estabelecer uma rede
de franquias, o empresário tem a oportunidade de criar um ambiente propício
para a comercialização de seus produtos e serviços, destacando-o frente à
concorrência.
É por este motivo que,
numa operação de franchising bem estruturada, os produtos e/ou serviços
comercializados na rede chegam ao consumidor de uma forma mais rápida e
vantajosa para o franqueador, que além de receber um certo valor pela franquia
e mais uma comissão mensal, não se responsabiliza pelos atos do franqueado que
é autônomo nessa relação comercial. Revela-se o contrato de franquia, portanto,
um negócio altamente lucrativo.
3.3 – O FRANQUEADO OU FRANCHISEE
O franqueado é aquele
que adquire a franquia e passa a desenvolver o negócio em uma certa região.
Numa operação de franchising estruturada corretamente, o franqueado adquire o
conhecimento necessário à instalação, operação e gestão de um negócio, cujo
modelo já foi testado e aprovado na prática.
O franqueado passa por
uma reciclagem em unidades próprias do franqueador para que possa adquirir todo
o conhecimento necessário para o bom desenvolvimento do negócio. Este é um dos
motivos pelos quais a probabilidade de sucesso de uma franquia é maior que a de
um negócio independente.
De
outro borde, o franqueado é autônomo e se responsabiliza pelos empregados e
todas outras despesas que eventualmente surgirem com o desenvolvimento do
negócio. O franqueado tem autonomia econômica e jurídica, tendo a distribuição
dos produtos, concedida pelo franqueador, mas aquele não participa da empresa
distribuidora, não sendo, portanto, uma filial deste.
Uma grande
vantagem, para o franqueado, é que a marca do franqueador já é bastante
conhecida do público consumidor. Destarte, o franqueado tem mais chances de ter
um negócio bem sucedido do que se fosse criar uma nova marca, onde o
empreendedor precisa desenvolver o seu próprio negócio partindo do zero.
O sucesso do contrato de
franquia depende exclusivamente do franqueado, que terá de empenhar sua
diligência e perspicácia na direção da empresa.
3.4 – DURAÇÃO DO CONTRATO DE FRANQUIA
Os contratos de
franchising, em geral, possuem um prazo determinado, razão pela qual, sempre
contêm uma cláusula prevendo sua prorrogação ou revogação.
De acordo com Carla F.
de Marco, o prazo do contrato de franquia deve ser, no mínimo, suficiente para
garantir ao franqueado o retorno do capital investido no negócio, além de uma
margem de lucro.[3]
A Lei 8.955/94, não
estabeleceu prazo algum para esta espécie de contrato, ficando ao alvitre do
magistrado decidir por eqüidade em casos particulares.
Em geral, os casos que
autorizam a rescisão contratual antes do término de seu prazo são:
- Inexecução voluntária do contrato;
- Caso fortuito ou força maior;
- Morte de um dos contraentes, quando o
contrato for intuito personae.
Não é
por demais observarmos, que há contratos que prevêem cláusula estipulando o
pagamento de indenização pelo término antecipado do contrato.
4 – O CONTRATO DE FRANCHISING
NO BRASIL
Atualmente
o contrato de franchising é utilizado em todos os países e no
Brasil encontra-se, verdadeiramente, entre os contratos nominados desde a
vigência da Lei 8.955 de 15 de dezembro de 1994 que o regulamenta.
No
Brasil a gênese e a evolução desta espécie de contrato ocorreu de uma forma um
tanto rudimentar. Por volta de 1960 foram instaladas, seguindo o sistema de
franquias, as redes de escolas de idiomas Yazigi e, em 1975, já seguiam este sistema a rede Mister Pizza, do Boticário e da Água de Cheiro.
Conforme
noticia a Associação Brasileira de Franchising, esta espécie de contrato tem
crescido continuamente nos últimos anos (20% ao ano), fazendo do Brasil hoje o
3º maior país franqueador do mundo, atrás somente dos EUA e Japão. Atualmente,
o Brasil conta com cerca de 600 empresas que já franqueiam e aproximadamente
56.000 pontos de vendas em todo o Brasil nos mais diversos segmentos. Com
faturamento anual na faixa de R$ 28 bilhões, o franchising atrai o empresário
que deseja promover a expansão de seus negócios rapidamente, sem precisar
investir muito. Por outro lado, seduz todo aquele que sonha em ter seu próprio
negócio, com a segurança e vantagens de uma marca de sucesso comprovado.
O contrato de
franchising garante uma série de vantagens a quem pretenda operar o seu próprio
negócio. Além de oferecer a oportunidade de trabalhar com uma marca conhecida,
uma boa franquia pressupõe a existência de um conceito de negócio previamente
testado e aprovado no mercado.
Para isso, um bom
franqueador deverá oferecer, entre outras ferramentas, treinamento e manuais
para garantir a qualidade e a consistência de cada um dos estabelecimentos que
usam a sua marca. Por outro giro, cada franqueado deverá implantar, operar e
administrar o negócio de acordo com os padrões ditados pelo franqueador. Isso
mantêm a padronização dos serviços prestados pela empresa.
5 – CONCLUSÃO
Diante
de todo o exposto, verificamos que, dentre os tipos de contratos de franquia
praticados, sobressaem-se os do setor empresarial que são os relacionados a
serviços e produção, essências do mercado capitalista em que vivemos.
A
pujança do contrato de franquia verdadeiramente se encontra numa boa relação
entre franqueador e franqueado, porquanto a sorte de um depende do sucesso do
outro.
Concluímos,
diante de tudo que foi posto em comento, que o contrato de franchising se
constitui em mais uma eficaz forma de se comercializar produtos, mercadorias e
serviços, possibilitando ao franqueador a ampliação de seu negócio, por meio de
redes de distribuição, aumentando, com isso, o faturamento empresarial,
proporcionando ao franqueado uma forma mais célere de constituir um negócio
próprio, sob resguardo de uma empresa sucesso.
Franquia:
veja o que o STJ vem decidindo sobre o tema
Quem
nunca pensou em abrir um negócio? Muitas pessoas que querem mudar de vida e se
tornar seu próprio chefe recorrem à franquia para realizar esse sonho. De
acordo com um estudo feito pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), o
segmento de franquias no Brasil cresceu 16,9% em 2011, atingindo o faturamento
de mais de R$ 88 bilhões. Atualmente, representa 2,3% do PIB nacional.
Para a ABF, o setor cresceu um pouco mais do que o esperado. Além disso, o bom momento da economia nacional e o aumento da renda da população foram os principais motivos dessa alta.
A franquia é uma modalidade de negócio comercial que envolve a distribuição de produtos ou serviços, mediante condições estabelecidas em contrato, entre franqueador e franqueado. Em expansão no país, a modalidade comercial envolve a concessão e transferência de marca, tecnologia, consultoria operacional, produtos ou serviços.
No Brasil, a modalidade se iniciou em 1960, com escolas de idiomas. Até o início dos anos 80, a franquia esteve concentrada em áreas tradicionais como distribuição de veículos, combustíveis e engarrafamento de bebidas.
Em 1992, quando o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) passou a reconhecer e autorizar a entrada de marcas internacionais no Brasil, o mercado foi aberto à competição nacional. Por essa razão, criou-se a Lei 8.955/94, que é responsável pelos assuntos de franchising no país.
De modo geral, as franquias oferecem inúmeras vantagens, mas os desentendimentos entre franqueadores e franqueados podem acabar parando na Justiça. Muitos desses impasses chegaram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Veja alguns casos julgados sobre o tema.
CDC
O contrato de franquia é essencialmente uma figura de comércio, celebrado entre comerciantes para o fornecimento de produtos e serviços para terceiros, estes sim os destinatários finais. Portanto, as disposições do Código de Defesa do Consumidor (CDC) não se aplicam aos franqueados.
Seguindo esse entendimento, o STJ não tem aplicado aos contratos de franquia as regras do CDC. Para o Tribunal, a relação entre o franqueador e o franqueado não está subordinada ao CDC, pois há uma lei especial que define a formação do contrato e as condições prévias da contratação.
Por essa razão, a Quarta Turma manteve decisão do Tribunal de Justiça de Alagoas que referendou o juízo da comarca de Brusque (SC) como foro competente para julgar e processar ação de rescisão contratual com pedido de indenização, movida por seis empresas franqueadas contra a Colcci Indústria e Comércio de Vestuários Ltda. (REsp 632.958).
A Turma, seguindo voto do relator, ministro Aldir Passarinho Junior, concluiu que o foro competente para processar e julgar esse tipo de ação é aquele livremente escolhido pelas partes.
No caso, as franqueadas queriam que a ação fosse processada na comarca de Maceió. Alegaram que a competência do foro de Brusque não foi devidamente informada no contrato e que houve desrespeito ao princípio da boa-fé. Sustentaram que, por se tratar de contrato de adesão, o foro competente seria o lugar onde a obrigação deve ser satisfeita.
A Colcci, por sua vez, argumentou que as franquias firmadas em 1998 foram renovadas inúmeras vezes com o comparecimento dos litigantes à cidade de Brusque (sede da empresa); que as empresas franqueadas nunca questionaram a validade do pacto celebrado entre as partes, e que o contrato de franquia não se assemelha a contrato de adesão.
Ao analisar a questão, o relator destacou que, ao contrário do alegado, as empresas franqueadas não se enquadram como destinatárias finais do produto. Para ele, franqueado não é consumidor, pois sua situação é bem diferente da conceituação contida nos artigos 2º e 3º do CDC, de modo algum se enquadrando como destinatário final. Da mesma forma, a franquia, em si, não pode ser entendida como espécie de produto ou serviço.
Inglês
Em outro caso, a Quarta Turma manteve decisão que condenou franqueados da Rede Wizard a se absterem do uso da marca, da reprodução de livros didáticos e de materiais para professores, bem como ao ressarcimento pelos danos gerados (REsp 695.792).
Os franqueados da escola de línguas, concomitantemente, constituíram nova franquia intitulada Wisdom Franchising, cujo material didático utilizado seguia a mesma linha pedagógica e idêntica estrutura metodológica da Wizard.
O colegiado, seguindo entendimento do relator, ministro Luis Felipe Salomão, manteve a decisão da Justiça paranaense por entender que a relação principal da questão dizia respeito ao contrato de franquia celebrado entre a Wizard Brasil e os franqueados, sendo o vínculo jurídico estabelecido diretamente com os segundos, sem nenhuma ligação com a primeira.
Hamburguer
Ao julgar o REsp 818.799, o STJ manteve decisão do tribunal paulista que condenou a empresa Jack Alimentos e Medicamentos Ltda. a indenizar, por danos morais, a Bob’s Indústria e Comércio Ltda.
No caso, a Jack, que tinha a franquia de seis estabelecimentos Bob’s na cidade de São Paulo, descumpriu termos previstos no contrato em caso de rescisão, após o fim do acordo de franquia do uso das marcas, logotipos e sistemas de produção e venda do Bob’s.
Segundo dados do processo, a franqueada descumpriu cláusula de obrigação de não atuar no negócio explorado pela Bob’s no período de 18 meses após o término da franquia, num raio de 20 quilômetros do local em que ficava o restaurante. A cláusula tinha por objetivo a proteção da marca.
Após refletir sobre o caso, o relator, ministro Castro Filho, manteve a indenização ao Bob’s por danos morais, mas negou o pedido de danos materiais. Mesmo ressalvando que, em regra, “o descumprimento de disposição contratual, por si só, não enseje reparação a título de dano moral”, o ministro observou que a decisão da Justiça paulista havia considerado que, na hipótese, a operação dos estabelecimentos como se fossem Bob’s implicava “sério risco à imagem e ao nome da autora”.
Churrascaria
Em outro julgamento também envolvendo produto de marca e franqueada, a Terceira Turma manteve decisão que permitiu à Churrascaria Porcão Ltda. realizar a busca e apreensão de todo material ou produto da Zaks Alimentos e Bebidas Ltda., que ostentasse sinais ou marcas da Porcão (Rcl 1.554). A decisão é do ministro Castro Filho, que atendeu ao pedido da empresa.
Em agosto de 2000, a churrascaria propôs ação contra a empresa de alimentos, na comarca do Rio de Janeiro. O objetivo era receber valores decorrentes do descumprimento do contrato de franquia estabelecido entre as partes, além de obrigar a franqueada a cumprir as cláusulas estabelecidas em caso de rescisão do contrato. Uma liminar foi concedida pelo juiz, determinando a busca e apreensão.
A Zaks, no entanto, ajuizou ações na Bahia, pedindo a nulidade do contrato de franquia ou sua rescisão. A empresa pretendia a liberação das obrigações perante a churrascaria e a autorização de utilizar seu estabelecimento comercial sem quaisquer restrições impostas em decorrência da rescisão do contrato de franquia. Por fim, pediu a condenação da franqueadora ao pagamento de indenização pelos danos sofridos.
Com decisões diferentes, uma em cada estado, um conflito de competência foi instaurado entre o juízo da 2ª Vara da comarca da capital do estado do Rio de Janeiro e o juízo da 22ª Vara Cível de Salvador. Ao julgar o conflito, a Segunda Seção do STJ decidiu que a competência era do juiz de direito da comarca do Rio de Janeiro.
Na ocasião, o relator do conflito, ministro Carlos Alberto Menezes Direito, afirmou que, “sopesadas as circunstâncias, atentando-se, ainda, para o expressivo valor da franquia (R$ 300 mil), o que revela ser a franqueada empresa de considerável porte, entendo que deve prevalecer o foro eleito pelas partes, não se justificando a intervenção para declarar a nulidade da cláusula em questão”.
Assim, o juiz do Rio de Janeiro tornou sem efeito a liminar concedida pelo juiz de Salvador à Zaks e confirmou a concedida à churrascaria. Expedida carta precatória, a empresa de alimentos entrou com mandado de segurança pedindo, em liminar, a suspensão da ordem. O Tribunal de Justiça da Bahia concedeu, sustando o ato, até a publicação da decisão sobre a competência tomada pelo STJ.
A churrascaria protestou. Após vários pedidos para que fosse permitido o cumprimento do mandado de busca e apreensão, o Porcão entrou com reclamação no STJ, pedindo liminarmente a suspensão da liminar concedida no mandado de segurança. Alegou que estava plenamente configurado o desrespeito à decisão da Segunda Seção no conflito de competência.
Ao analisar a questão, Castro Filho concordou: “Afiguram-se presentes os requisitos para a suspensão do ato impugnado, na forma do artigo 188, II, do Regimento Interno desta Corte, mormente em razão da decisão proferida no referido conflito.”
Para a ABF, o setor cresceu um pouco mais do que o esperado. Além disso, o bom momento da economia nacional e o aumento da renda da população foram os principais motivos dessa alta.
A franquia é uma modalidade de negócio comercial que envolve a distribuição de produtos ou serviços, mediante condições estabelecidas em contrato, entre franqueador e franqueado. Em expansão no país, a modalidade comercial envolve a concessão e transferência de marca, tecnologia, consultoria operacional, produtos ou serviços.
No Brasil, a modalidade se iniciou em 1960, com escolas de idiomas. Até o início dos anos 80, a franquia esteve concentrada em áreas tradicionais como distribuição de veículos, combustíveis e engarrafamento de bebidas.
Em 1992, quando o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) passou a reconhecer e autorizar a entrada de marcas internacionais no Brasil, o mercado foi aberto à competição nacional. Por essa razão, criou-se a Lei 8.955/94, que é responsável pelos assuntos de franchising no país.
De modo geral, as franquias oferecem inúmeras vantagens, mas os desentendimentos entre franqueadores e franqueados podem acabar parando na Justiça. Muitos desses impasses chegaram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Veja alguns casos julgados sobre o tema.
CDC
O contrato de franquia é essencialmente uma figura de comércio, celebrado entre comerciantes para o fornecimento de produtos e serviços para terceiros, estes sim os destinatários finais. Portanto, as disposições do Código de Defesa do Consumidor (CDC) não se aplicam aos franqueados.
Seguindo esse entendimento, o STJ não tem aplicado aos contratos de franquia as regras do CDC. Para o Tribunal, a relação entre o franqueador e o franqueado não está subordinada ao CDC, pois há uma lei especial que define a formação do contrato e as condições prévias da contratação.
Por essa razão, a Quarta Turma manteve decisão do Tribunal de Justiça de Alagoas que referendou o juízo da comarca de Brusque (SC) como foro competente para julgar e processar ação de rescisão contratual com pedido de indenização, movida por seis empresas franqueadas contra a Colcci Indústria e Comércio de Vestuários Ltda. (REsp 632.958).
A Turma, seguindo voto do relator, ministro Aldir Passarinho Junior, concluiu que o foro competente para processar e julgar esse tipo de ação é aquele livremente escolhido pelas partes.
No caso, as franqueadas queriam que a ação fosse processada na comarca de Maceió. Alegaram que a competência do foro de Brusque não foi devidamente informada no contrato e que houve desrespeito ao princípio da boa-fé. Sustentaram que, por se tratar de contrato de adesão, o foro competente seria o lugar onde a obrigação deve ser satisfeita.
A Colcci, por sua vez, argumentou que as franquias firmadas em 1998 foram renovadas inúmeras vezes com o comparecimento dos litigantes à cidade de Brusque (sede da empresa); que as empresas franqueadas nunca questionaram a validade do pacto celebrado entre as partes, e que o contrato de franquia não se assemelha a contrato de adesão.
Ao analisar a questão, o relator destacou que, ao contrário do alegado, as empresas franqueadas não se enquadram como destinatárias finais do produto. Para ele, franqueado não é consumidor, pois sua situação é bem diferente da conceituação contida nos artigos 2º e 3º do CDC, de modo algum se enquadrando como destinatário final. Da mesma forma, a franquia, em si, não pode ser entendida como espécie de produto ou serviço.
Inglês
Em outro caso, a Quarta Turma manteve decisão que condenou franqueados da Rede Wizard a se absterem do uso da marca, da reprodução de livros didáticos e de materiais para professores, bem como ao ressarcimento pelos danos gerados (REsp 695.792).
Os franqueados da escola de línguas, concomitantemente, constituíram nova franquia intitulada Wisdom Franchising, cujo material didático utilizado seguia a mesma linha pedagógica e idêntica estrutura metodológica da Wizard.
O colegiado, seguindo entendimento do relator, ministro Luis Felipe Salomão, manteve a decisão da Justiça paranaense por entender que a relação principal da questão dizia respeito ao contrato de franquia celebrado entre a Wizard Brasil e os franqueados, sendo o vínculo jurídico estabelecido diretamente com os segundos, sem nenhuma ligação com a primeira.
Hamburguer
Ao julgar o REsp 818.799, o STJ manteve decisão do tribunal paulista que condenou a empresa Jack Alimentos e Medicamentos Ltda. a indenizar, por danos morais, a Bob’s Indústria e Comércio Ltda.
No caso, a Jack, que tinha a franquia de seis estabelecimentos Bob’s na cidade de São Paulo, descumpriu termos previstos no contrato em caso de rescisão, após o fim do acordo de franquia do uso das marcas, logotipos e sistemas de produção e venda do Bob’s.
Segundo dados do processo, a franqueada descumpriu cláusula de obrigação de não atuar no negócio explorado pela Bob’s no período de 18 meses após o término da franquia, num raio de 20 quilômetros do local em que ficava o restaurante. A cláusula tinha por objetivo a proteção da marca.
Após refletir sobre o caso, o relator, ministro Castro Filho, manteve a indenização ao Bob’s por danos morais, mas negou o pedido de danos materiais. Mesmo ressalvando que, em regra, “o descumprimento de disposição contratual, por si só, não enseje reparação a título de dano moral”, o ministro observou que a decisão da Justiça paulista havia considerado que, na hipótese, a operação dos estabelecimentos como se fossem Bob’s implicava “sério risco à imagem e ao nome da autora”.
Churrascaria
Em outro julgamento também envolvendo produto de marca e franqueada, a Terceira Turma manteve decisão que permitiu à Churrascaria Porcão Ltda. realizar a busca e apreensão de todo material ou produto da Zaks Alimentos e Bebidas Ltda., que ostentasse sinais ou marcas da Porcão (Rcl 1.554). A decisão é do ministro Castro Filho, que atendeu ao pedido da empresa.
Em agosto de 2000, a churrascaria propôs ação contra a empresa de alimentos, na comarca do Rio de Janeiro. O objetivo era receber valores decorrentes do descumprimento do contrato de franquia estabelecido entre as partes, além de obrigar a franqueada a cumprir as cláusulas estabelecidas em caso de rescisão do contrato. Uma liminar foi concedida pelo juiz, determinando a busca e apreensão.
A Zaks, no entanto, ajuizou ações na Bahia, pedindo a nulidade do contrato de franquia ou sua rescisão. A empresa pretendia a liberação das obrigações perante a churrascaria e a autorização de utilizar seu estabelecimento comercial sem quaisquer restrições impostas em decorrência da rescisão do contrato de franquia. Por fim, pediu a condenação da franqueadora ao pagamento de indenização pelos danos sofridos.
Com decisões diferentes, uma em cada estado, um conflito de competência foi instaurado entre o juízo da 2ª Vara da comarca da capital do estado do Rio de Janeiro e o juízo da 22ª Vara Cível de Salvador. Ao julgar o conflito, a Segunda Seção do STJ decidiu que a competência era do juiz de direito da comarca do Rio de Janeiro.
Na ocasião, o relator do conflito, ministro Carlos Alberto Menezes Direito, afirmou que, “sopesadas as circunstâncias, atentando-se, ainda, para o expressivo valor da franquia (R$ 300 mil), o que revela ser a franqueada empresa de considerável porte, entendo que deve prevalecer o foro eleito pelas partes, não se justificando a intervenção para declarar a nulidade da cláusula em questão”.
Assim, o juiz do Rio de Janeiro tornou sem efeito a liminar concedida pelo juiz de Salvador à Zaks e confirmou a concedida à churrascaria. Expedida carta precatória, a empresa de alimentos entrou com mandado de segurança pedindo, em liminar, a suspensão da ordem. O Tribunal de Justiça da Bahia concedeu, sustando o ato, até a publicação da decisão sobre a competência tomada pelo STJ.
A churrascaria protestou. Após vários pedidos para que fosse permitido o cumprimento do mandado de busca e apreensão, o Porcão entrou com reclamação no STJ, pedindo liminarmente a suspensão da liminar concedida no mandado de segurança. Alegou que estava plenamente configurado o desrespeito à decisão da Segunda Seção no conflito de competência.
Ao analisar a questão, Castro Filho concordou: “Afiguram-se presentes os requisitos para a suspensão do ato impugnado, na forma do artigo 188, II, do Regimento Interno desta Corte, mormente em razão da decisão proferida no referido conflito.”
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